16 de junho de 2007, quinta-feira, duas horas da tarde. Uma multidão se aglomerava na calçada do outro lado da rua onde moro. Um pouco mais a frente, três viaturas e pelo menos mais quatro cabos policiais. A movimentação era simplesmente incompatível com o horário. Na verdade, a movimentação era incompatível com qualquer situação normal. Algo muito estranho estava acontecendo.
Eu estava na garagem, esperando o portão abrir para eu subir a rampa e finalmente sair. Foi quando atingi a calçada que vi essa cena e tive dimensões do que estava havendo. Alunos da escola ao lado, moradores dos prédios vizinhos e outros transeuntes parados na rua olhando para frente.
Enquanto uma mulher de meia-idade bloqueava a saída da garagem com seu Renault Clio, olhei na direção que todos olhavam. No prédio vizinho ao meu, um homem dependurado em uma janela ameaçava se suicidar. Imediatamente pensei: “Se ele realmente quisesse se jogar, já teria se jogado”. Eu tinha absoluta certeza que ele não ia se jogar. Mesmo assim, inevitável não ficar impressionada com a situação.
Acelerei o carro, quis gritar e sair logo dali. Meu maior desejo naquele instante, no entanto, era não ser mais parte dessa raça (des)humana e asquerosa. A repulsa era tão grande que não coube em mim. Comecei a chorar copiosamente. Fiquei enjoada, trêmula, quase não consegui dirigir. Durante o trajeto inteiro xinguei internamente toda a humanidade e me derreti em lágrimas. Só me recompus ao chegar ao trabalho.
Quando cheguei em casa, lá pelas 22h, liguei imediatamente para o porteiro a fim de saber o desfecho da história. Felizmente, quem quer que seja, não se jogou, como eu havia previsto. E nós, quando vamos jogar pela janela esse gosto barato pelo mórbido?