Ontem, depois de muitos, muitos, muitos meses mesmo peguei a linha verde. Tinha esquecido do quanto eu gosto de pegar metrô nessa linha. É tudo tão clean, tão agradável, tão artístico.
Na estação Vila Madalena, entro no vagão e me deparo com umas televisõeszinhas penduradas no teto. Quase me senti no Japão. Eu me lembrava desses pequenos televisores, mas nunca os tinha visto ligados. Até que, ontem, pela primeira vez, lá estavam eles, dando informações sobre o menor peixe do mundo. Vocês sabiam que o menor peixe do mundo vive nas Filipinas? Pois é. Ele vive nas Filipinas e mede não-sei-quanto exatamente, mas lembro que ele é menor do que 1 centímetro.
Vejam só, metrô também é cultura. Cultura inútil, é verdade, mas não totalmente descartável. Situações como essa podem gerar surtos inspiração superprodutivos. Talvez soe um tanto estranho para vocês, mas acredito que escrevia mais e melhor quando perambulava por aí usando transporte público. Agora que eu dirijo pra cima e pra baixo, sinto falta de encarar o aperto de um ônibus na hora do rush.
Como assim você sente falta de pegar ônibus lotado, Renata? Você está sã? Você bebeu? Não, gente. Explico: Passo cerca de 3 horas por dia indo para lá e para cá dentro de um carro. Lógico que tem suas vantagens. Vou ouvindo rádio numa boa e não me estresso, a não ser com aqueles boyzinhos apressados que costuram o trânsito e que realmente me tiram do sério. Além disso, dirigir também é muito gostoso. Quando o tráfego está livre, é quase uma terapia. Mas as vantagens acabam por aí.
O carro, quando você não dá carona para ninguém, é um meio de transporte muito solitário. É só você, você, você, o Heródoto falando no rádio de vez em quando, você de novo e mais ninguém. Tem as outras pessoas, que estão nos outros carros, mas dificilmente você vai ter alguma oportunidade de interação com elas. A não ser quando você fecha alguém e toma um xingo ou quando você bate o carro e é obrigado a descer para pegar dados.
Já um ônibus lotado, às vezes, nos presenteia com situações tão inusitadas que geram crônicas belíssimas. Situações que eu jamais poderia presenciar se estivesse dirigindo o meu Golzinho. É disso que eu sinto falta. Sinto falta desse breve contato que eu tinha com outras dezenas de universos particulares desconhecidos. Sinto falta de observar as pessoas a caminho de um lugar qualquer e reparar nos seus gestos, nos seus modos. Sinto falta das histórias que ouvia sem querer querendo e de toda a inspiração que com elas vinha.
E agora, vocês continuam me achando louca?