Logo que chegou ao hipermercado, notou uma movimentação fora do normal para o horário. Era uma sexta-feira, 10 horas da noite, e o estacionamento estava bem cheio. Enquanto procurava uma vaga, a mãe dela, que estava no banco do passageiro, repetia mais uma vez o que disse durante o caminho todo: - Tá vendo? Eu disse para você vir aqui de manhã, mas você não me ouve.
Fato é que nesse dia ela acordou extremamente tarde e um tanto preguiçosa. Passou a manhã inteira pendurada na frente da TV e não se sentia disposta a se trocar para comprar as malditas caixas de leite que estavam em promoção. Não se importava de pagar 30 centavos a mais por cada uma e ter uma manhã típica de quem está de férias. Ela poderia ir comprar o leite à noite, depois do trabalho, sem o menor problema. E foi o que fez.
Estacionou o carro e desceram. Pegaram um carrinho e subiram. No fim da rampa rolante, logo na entrada do mercado, a resposta para todo aquele movimento: “Queima de estoque. Somente neste fim de semana”, dizia uma placa.
No caminho para a seção de leite, pessoas carregando televisores, computadores e, obviamente, caixas e mais caixas de leite. Tudo estava em promoção. De eletroeletrônicos a vasos de flores. Desejou ser milhoranária para se deixar seduzir por todas aquelas ofertas tentadoras. CDs, edredons coloridos, vestidos, meias. Queria tudo! Quando finalmente chegaram ao corredor do leite, a decepção: as caixas em promoção haviam acabado. E mais uma vez sua mãe falou:
- Tá vendo? Eu disse para você vir aqui de manhã, mas você não me ouve.
Um pouco mais à frente, uma fila. Uma fila enorme, maior do que as filas que encontramos no cinema nos sábados à noite. Era a fila para pegar as caixas de leite. Mais um caminhão de leite havia chegado e eles estavam liberando as caixas aos poucos. Cada cliente tinha direito a apenas uma. Pensando melhor, a mãe tinha razão. Que droga! Ela deveria ter ido lá de manhã, mas ela não ouviu a mãe dela.
As pessoas estavam exaltadas. Algumas saíam em disparada para pegar um lugar na fila. Outras se aglomeravam na porta do estoque para brigar com os funcionários do hipermercado. O clima era estranho. Parecia que o país estava em guerra ou que aquelas eram as últimas de leite da galáxia. Virou para a sua mãe e disse:
- Parece que todas as vacas do mundo pegaram a doença da vaca louca e não vai ter mais leite.
- É verdade, filha. Parece o fim do mundo.
Aguardaram na fila por uns vinte minutos ou um pouco mais. Por fim, conseguiram duas caixas. Agora era só pagar e ir embora. Queria sair daquela confusão, só não achava que as filas do caixa estariam tão grandes quanto a fila do leite...